de revoada

04.12.2020 – Sertão

 

“Sabe o senhor: sertão é onde o pensamento da gente se forma mais forte do que o poder do lugar.”

Grande Sertão: Veredas
João Guimarães Rosa

 

 

Equipe Ibis

Rosaura Eichenberg

04.12.2020 – Thérèse de Lisieux

 

Aimer c’est tout donner et se donner soi même.” 

                                             Thérèse de Lisieux

                                 Santa Teresinha do Menino Jesus

 

 

Equipe Ibis

Rosaura Eichenberg

30.11.2020 – Leituras de Bob Dylan

 

No seu livro Chronicles (volume 0ne), Bob Dylan tece comentários sobre a leitura de Vom Kriege de Clausewitz:  

 “When he [Clausewitz] claims that politics has taken the place of morality and politics is brute force, he’s not playing… Don’t give me any of that jazz about hope or nonsense about righteouness. Don’t give me that dance that God is with us, or that God supports us. Let’s get down to brass tacks. There isn’t any moral order. You can forget that. Morality has nothing to do with politics… This is the way the world is and nothing’s gonna change it. It’s a crazy, mixed up world and you have to look it right in the eye. Clausewitz in some ways is a prophet.”

“Quando ele [Clausewitz]  afirma que a política tomou o lugar da moralidade e que a política é força bruta, ele não está brincando… Não me venham com esse jazz de esperança ou disparate a respeito de justiça. Não me venham com essa dança de que Deus está conosco, ou de que Deus nos sustenta. Vamos ao que importa. Não há ordem moral. Podem esquecer. A moralidade não tem nada a ver com a política… O mundo é assim e nada vai mudá-lo. Um mundo louco e confuso,  e temos de de encará-lo bem no olho. Clausewitz é de certa maneira um profeta.”   

É um comentário duro, difícil de aceitar por aqueles que acreditam que Deus está conosco e que Deus nos sustenta. Mas cabe refletir sobre a política ter tomado o lugar da moralidade e a política ser força bruta, que em nossos tempos modernos se diversifica em tecnologias sutis como as dos meios de comunicação. Diante do que estamos vendo acontecer em nosso mundo, Dylan não está longe da verdade quando diz que Clausewitz é de certa maneira um profeta.

 

 

Sua leitura de O General Ateniense de Tucídides também assusta:

“It was written four hundred years before Christ and it talks about how human nature is always the enemy of anything superior. Thucydides writes about how words in his time have changed from their ordinary meaning, how actions and opinions can be altered in the blink of an eye. It’s like nothing has changed from his time to mine.”

“Foi escrito quatrocentos anos antes de Cristo e diz que a natureza humana é sempre inimiga de qualquer coisa superior. Tucídides escreve que as palavras em seu tempo mudaram seu significado comum, que as ações e as opiniões podiam ser alteradas num piscar de olhos. É como se nada tivesse mudado de seu tempo para o meu.”

 

 

E para aliviar a dureza dessas duas passagens do livro, eis um trecho em que Dylan se revela americano até a medula dos ossos:

Being born and raised in America, the country of freedom and independence, I had always cherished the values and ideals of equality and liberty. I was determined to raise my children with those ideals.”

“Nascido e criado nos Estados Unidos, o país da liberdade e da independência, eu sempre prezei os valores e ideais de igualdade e liberdade. Estava determinado a criar meus filhos com esses ideais.”  

 

Equipe Ibis

13.11.2020 – Mozart e Bob Dylan

 

Um pensamento de Mozart que liga o gênio de Salzburg a Bob Dylan. 

 

“Não levo em consideração nem elogios, nem críticas de qualquer pessoa. Sigo apenas meus próprios sentimentos.”

 

WOLFGANG AMADEUS MOZART

 

Equipe Ibis

16.10.2020 – O Grande Ditador por Charlie Chaplin

 

A realidade dos fatos está eivada de contradições, enigmas quase impossíveis de serem elucidados. Talvez ela seja realmente simples, mas não para a mente humana sempre precária. Cabe aos humanos a luta constante e vã para iluminar, apesar de todos os perigos, as várias facetas da realidade.

Charlie Chaplin realizou uma obra-prima (mais uma entre tantas) em plena Segunda Guerra Mundial, O Grande Ditador. O filme versa sobre a ameaça totalitária de um Hitler nazista e de um Mussolini fascista, focalizando a perseguição aos indivíduos judeus e não-judeus. Estreou nos Estados Unidos em outubro de 1940, um ano antes de os americanos entrarem na guerra depois do ataque a Pearl Harbour em dezembro de 1941. O sucesso foi grande tanto entre os americanos como entre os europeus após a estreia no Velho Continente. Hoje em dia a película é aclamada como a obra de arte que realmente é, além de ser saudada como peça de resistência à ameaça totalitária das potências do Eixo na Segunda Guerra.

Em seu livro My Autobiography (1964), Charles Chaplin revela as contradições que acompanharam a realização de O Grande Ditador.  A mais surpreendente foi saber que ele realizou o filme praticamente com seus próprios recursos.  Ninguém quis financiar sua aventura, nem os judeus ricos de Nova York. Todos alegavam que não era bom atacar Hitler, que isso seria contraproducente para a solução dos conflitos geopolíticos então em andamento.

Charles Chaplin foi muito atacado nos Estados Unidos, por suas ideias que diziam ser socialistas ou até mesmo comunistas. Ele chegou a ser submetido a um julgamento por uma acusação caluniosa, no qual foi absolvido porque prevaleceu a justiça. Nos anos 50, porém, as forças que o atacavam conseguiram expulsá-lo dos Estados Unidos.  O surpreendente é saber que essas forças atacaram sobremaneira o seu filme O Grande Ditador.  O que mais lhes desagradou foi a cena final, quando Charles Chaplin como que sai da trama ficcional e profere um discurso contra a perseguição aos indivíduos, no caso os judeus, e em favor da paz. Em retrospectiva, não é raro as contradições aflorarem com grande ímpeto.

Ainda na sua autobiografia, Chaplin relata que no final de 1940 compareceu a uma cerimônia na Casa Branca, e que o único comentário de Franklin D. Roosevelt sobre O Grande Ditador foi: “O seu filme está nos causando problemas na Argentina.”

Eleanor Roosevelt at FDR’s third inaugural ball, tonight 1941, with Mickey Rooney and Charlie Chaplin, who had just made “The Great Dictator”

Que ninguém se iluda, a mente humana é precária e a dança das ideologias é macabra. Mas cumpre lembrar que os grandes artistas sabem fazer soar de vez em quando os acordes magníficos da verdade pressentida.

 

 

Rosaura Eichenberg

04.08.2020 – Uma recomendação de Rainer Maria Rilke

 

Lesen Sie möglichst wenig ästhetisch-kritische Dinge, es sind entweder Parteiansichten, versteinert und sinnlos geworden in ihrem leblosen Verhärtetsein, oder es sind geschickte Wortspiele, bei denen heute diese Ansicht gewinnt und morgen die entgegengesetzte. Kunst-Werke sind von einer unendlichen Einsamkeit und mit nichts so wenig erreichbar als mit Kritik. Nur Liebe kann sie erfassen und halten und kann gerecht sein gegen sie. Geben Sie jedesmal sich und Ihrem Gefühl recht, jeder solchen Auseinandersetzung, Besprechung oder Einführung gegenüber; sollten Sie doch unrecht haben, so wird das natürliche Wachstum Ihres inneren Lebens Sie langsam und mit der Zeit zu anderen Erkenntnissen führen.

Rainer Maria Rilke 

 

Leia o mínimo possível de textos críticos e estéticos; ou são pontos de vista parciais, petrificados e sem sentido em seu endurecimento sem vida, ou são jogos de palavras hábeis nos quais uma visão vence hoje e a visão oposta amanhã. A solidão das obras de arte é infinita, e nada as alcança menos do que a crítica. Somente o amor pode compreendê-las, conservá-las e tratá-las com justeza. Sempre dê a si mesmo e a seus sentimentos a primazia sobre qualquer uma dessas explicações, recensões ou introduções; se você estiver errado, o crescimento natural de sua vida interior o levará lentamente com o passar do tempo a outras compreensões.

 

Equipe Ibis

03.08.2020 – Um pensamento de Rainer Maria Rilke

 

Wenn Ihr Alltag Ihnen arm scheint, klagen Sie ihn nicht an; klagen Sie sich an, sagen Sie sich, daß Sie nicht Dichter genug sind, seine Reichtümer zu rufen; denn für den Schaffenden gibt es keine Armut und keinen armen, gleichgültigen Ort.

                                                     Rainer Maria Rilke

 

Se o cotidiano lhe parece pobre, não o culpe por isso; culpe a si mesmo, diga a si próprio que não é deveras poeta para invocar suas riquezas; para quem cria, não há pobreza, nenhum lugar pobre e indiferente.

 

Equipe Ibis

04.02.2020 – G. K. Chesterton – Arte

 

Em seu livro The Everlasting Man,  o escritor inglês do início do século XX, G. K. Chesterton, faz uma reflexão sobre os seres humanos e demonstra que o homem não é como os outros animais. Ao considerar as eras da pré-história, Chesterton aponta que pouco sabemos dos homens pré-históricos – deles temos apenas o testemunho dos desenhos nas cavernas. Um ofício que pertence unicamente ao ser humano – inexistente nos outros animais, e igualmente ausente nas máquinas, capazes tão somente de ampliá-lo, refiná-lo, aperfeiçoá-lo, jamais criá-lo.

E com isso Chesterton cunha uma frase memorável.

     A Arte é a assinatura do homem.

 

Rosaura Eichenberg

07.01.2020 – Inteligência artificial

 

O olho humano é uma das tantas maravilhas da natureza, mas ele tem seus limites. Na sua busca de conhecimento, os humanos inventaram mecanismos para superar essas limitações – o telescópio permitiu a visão de objetos muito distantes, o microscópio tornou possível a inspeção de fenômenos extremamente pequenos. E com o avanço da ciência e tecnologia modernas, os auxílios para o olho humano se multiplicaram exponencialmente.

Hoje estão muito adiantados os estudos para o desenvolvimento da inteligência artificial. Entendo a inteligência artificial como um mecanismo que está sendo criado para superar as limitações da inteligência humana. Em vários aspectos, no estágio em que hoje se encontra, a inteligência artificial é muito superior à humana. Por exemplo, li que os estudos de energia nuclear obtida por meio da fusão de átomos estão sendo realizados com o auxílio imprescindível da inteligência artificial. Outro exemplo é o ramo da robótica – por meio de robôs, os seres humanos estão ampliando sobremaneira sua possibilidade de atuação na exploração do desconhecido.

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É importante, entretanto, não desvirtuar o desenvolvimento e o emprego desse valioso instrumento moderno.  Não devemos transformar a inteligência artificial num fetiche. Isto é, a inteligência artificial não tem por objetivo imitar a mente humana ou substituí-la. Achar que ela pode tomar o lugar da mente humana é alimentar uma mentalidade de super-heróis dos gibis. Por favor, menos.

Numa aula de cosmologia, o professor colocou no quadro-negro as proporções de nosso universo: num canto, um quadradinho representava todo o universo que, de algum modo, podemos ver ou conceber; do mesmo canto partia um quadrado maior que chegava ao centro do quadro-negro, indicando a matéria escura ainda desconhecida por nós; o resto do quadro-negro era ocupado pela energia escura, igualmente desconhecida. Nós, humanos, somos um nada invisível num pálido ponto azul (a Terra nas palavras de Carl Sagan) perdido naquele quadradinho diminuto no canto do quadro-negro. Uma lição de humildade.

Ainda assim, o quadradinho encolhido no alto do quadro-negro é o nosso universo, aquele que nos deslumbra pela imensidão e nos intimida pelo desconhecido. Entendo que cada um de nós possui na cabeça universo semelhante. A mente humana equivale ao universo na medida em que contém igual imensidão e igual desconhecido. Assim como os estudos sobre o universo, as pesquisas sobre a mente humana avançam com eficiência e celeridade, mas cumpre lembrar que ainda se encontram em fases preliminares.

Só que não é apenas a dificuldade dos estudos que impede a cópia da mente humana. Que esses estudos avancem cada vez mais e tragam auxílios de suma importância para o conhecimento humano. Mas é essencial desfazer o fetiche, a quimera. A mente humana não pode ser copiada, clonada, imitada, porque ela tem características irredutíveis a essa tentativa. Como a vida, a mente humana é imperfeita. Impossível copiar a imperfeição.

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Rosaura Eichenberg

04.01.2020 – Anna Magdalena Bach

 

Em 1988, a Editora Veredas publicou a tradução brasileira de uma verdadeira joia, Pequena Crônica de Anna Magdalena Bach. Esse livro, publicado anonimamente em 1925, é uma novela da escritora inglesa Esther Meynell. Uma obra de ficção, portanto, mas por ser fundamentada em documentos e estudos sobre Bach, lança muita luz sobre a vida e o trabalho do grande músico.

Anna Magdalena foi a segunda esposa de Bach, com quem teve treze filhos e conviveu até a morte do compositor. Ela era 15 anos mais nova que o marido, cantava e acompanhou de perto seu trabalho musical. No livro, dedica muitas páginas ao ensino de música que presenciou na sua casa, pois essa era uma das funções dos cargos ocupados por Bach.

Recebeu como presente do marido um pequeno livro com a cópia das duas grandes partitas em lá menor e mi menor. Seguiam-se várias peças, arranjos corais e vocais, contribuições de compositores da época, sem nenhuma ordem específica e frequentemente entremeados com outras composições do próprio Bach.

Suas memórias romanceadas são uma aproximação singela e muito interessante ao gênio da música.

Notenbüchlein für Anna Magdalena Bach

Minueto em sol maior  –  Christian Petzold

 

Rosaura Eichenberg

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