Van Morrison e Eric Clapton são dois grandes artistas da música popular britânica. Em nossos tempos sombrios, revelaram ter a coragem de dar com sua música uma resposta altiva aos que querem escravizar a humanidade. Van Morrison escreveu um blues contra os lockdowns, Stand and Deliver, Eric Clapton o cantou.
Os inimigos da humanidade ordenam – Stand and Deliver (Expressão comum nos assaltos na estrada ou na coleta de impostos). A resposta/pergunta é – Do you wanna be a free man or do you wanna be a slave? Pelo jeito, nem Van Morrison nem Eric Clapton deixaram que lhes enfiassem o medo no coração.
E alertam – You better look out, people, before it gets too late.
Stand and deliver
You let them put the fear on you
Stand and deliver
But not a word you heard was true
But if there’s nothing you can say
There may be nothing you can do
Do you wanna be a free man
Or do you wanna be a slave?
Do you wanna be a free man
Or do you wanna be a slave?
Do you wanna wear these chains
Until you’re lying in the grave?
I don’t wanna be a pauper
And I don’t wanna be a prince
I don’t wanna be a pauper
And I don’t wanna be a prince
I just wanna do my job
Playing the blues for friends
Magna Carta, Bill of Rights
The Constitution, what’s it worth?
You know they’re gonna grind us down, ah
Until it really hurts
Is this a sovereign nation
Or just a police state?
You better look out, people
Before it gets too late
Van Morrison
Rosaura Eichenberg
Encontram-se fariseus na Bíblia com certa frequência. Uma explicação do significado de seu nome é fornecida por Hadriano Simon em Praelectiones Biblicae Novum Testamentum. A palavra fariseu tem origem hebraica – perushim (de parash = separar). Do hebraico passou para a forma grega – ϕαρισαιοι, isto é, fariseus = separados. Não eram assim chamados porque evitassem o contato com os pagãos, pois separar-se dos gentios era comum entre os judeus. Eles evitavam o povo, de quem insistiam em se manter separados.
Em seus comentários sobre o Evangelho de São Mateus, Santo Tomás de Aquino comenta a malignidade dos fariseus. “Fariseus, isto é, separados, porque perversamente interpretavam, convertendo o bem em mal (Eclesiástico 11,33).” E mais: “Neles vemos um exemplo e tipo dos que não querem crer, para os quais não bastam nem os argumentos mais manifestos, porque, obscurecendo o intelecto com a malícia da vontade, enganam-se a si mesmos com vãos raciocínios.”
Em nossos tempos, as ideologias dominantes estão infestadas de fariseus. É verdade que, como os fariseus bíblicos, eles interpretam perversamente e convertem o bem em mal. Mas o que chama atenção é que, como na análise de Santo Tomás, 1) eles não querem ver a verdade – se Santo Tomás fala da verdade divina dizendo que eles não querem crer, os “fariseus” atuais nem querem reconhecer a realidade dos fatos. 2) Eles obscurecem o intelecto com a malícia da vontade – como querem ver apenas o que serve a seus interesses, o intelecto deixa de funcionar a contento. Por isso, não compreendem nem aceitam argumento algum, inviabilizando qualquer tentativa de discussão. 3) Eles se enganam a si mesmos com vãos raciocínios – tudo o que falam é um engano para si mesmos e para os outros, o que torna seus raciocínios vãos para usar o termo elegante de Santo Tomás. De maneira bem mais grosseira, diríamos que acabam em puro besteirol.
Interessante observar um dado nessa comparação entre os fariseus da Bíblia e os de hoje em dia. Conforme o significado da palavra fariseu, eles se mantinham apartados do povo. Um dos traços da ideologia esquerdista é o imenso desprezo pelo povo, que eles consideram apenas massa de manobra. Não sei se a ideologia global dominante é tão somente esquerdista, mas seus agentes certamente se apartam do povo no sentido de que não querem contato com a realidade.
A guerra tomou conta do nosso planeta. Um dos requisitos da defesa é conhecer o inimigo, por isso essa reflexão de Santo Tomás sobre os fariseus é oportuna.
Rosaura Eichenberg
Dois comentários sobre o romance de Herman Melville me reavivaram a memória da leitura desse grande livro. Melville não é um escritor fácil – como quem não quer nada, ele conduz o leitor a meditar sobre temas que em geral estão muito além de nossa compreensão. Os textos de Melville sempre me causaram a impressão de eu pouco ter compreendido e um fascínio impregnado de medo pelo desejo de conhecer.
Bartebly, the Scrivener foi a última história de Melville que li, e num momento em que me encontrava debilitada por uma fratura no ombro depois de uma queda na rua. Li desprevenida e gelei quando me vi mergulhada num conto de terror.
A leitura de Moby Dick é bem mais antiga. E o vislumbre da imensidão da minha ignorância tinha a cor branca da baleia que devora todas as cores. Entretanto, gravadas na memória como brasas incandescentes, estão as primeiras páginas da história. Ishmael – o narrador, “Call me Ishmael” – vagueia pela vila portuária com uma inquietação no coração, uma melancolia que não vai embora. Há um crescendo nos parágrafos até que ele chega à límpida conclusão – era tempo de se fazer ao mar.
Quando li esse começo de história, experimentei a sensação de já ter lido aquelas frases muitas vezes, há muito tempo. O mar sempre me fascinou, mas desde criança ele me amedronta. Adolescente, eu só queria ler livros tendo o mar como personagem, mas na praia eu não incorporava a audácia dos piratas. Por isso, é um mistério que a minha memória de Moby Dick seja este anseio de Ishmael. Se alguém me fala de Moby Dick, eu quase sempre me pego pensando se não está na hora de me fazer ao mar.
Rosaura Eichenberg