de revoada

10.03.2019 – Vida inteligente na juventude brasileira

 

A grande tragédia brasileira nos últimos anos é a derrocada na área da educação. São gerações e gerações perdidas, pois o país parece estar formando muita gente que não sabe ler, escrever ou fazer contas. Por isso foi uma surpresa agradável descobrir um comentarista político da Rádio Jovem Pan chamado Caio Coppolla, um menino formado em estudos jurídicos que veio desmentir o cenário deprimente. Ele brilha pela clareza de suas análises, pelo cuidado meticuloso com os dados que apresenta, pela busca de uma compreensão embasada na realidade. No ambiente polarizado dos debates políticos, ele se declara conservador sem a pretensão de estar de posse de verdades absolutas, mas não se deixa intimidar se atacam erroneamente suas posições. Muito interessante o que diz sobre ser conservador, antes uma atitude que uma ideologia. Em suma, ninguém deve procurar seus comentários por estarem de acordo com essa ou aquela posição, mas por contribuírem para a compreensão do que está sendo discutido.

É até natural que na tresloucada cena da nossa cultura e política, um comentarista desse naipe fosse logo atacado. O ataque veio sob a forma de uma pretensa denúncia – o seu nome seria falso, ele teria outro nome, não usaria o sobrenome paterno por se envergonhar do pai, ou coisa parecida. Pelo que pude apreender, a intenção era dizer – esse comentarista é falso, pois até seu nome não é verdadeiro. Caio Coppola é ainda quase menino, e certamente sofreu com ataque tão vil que atingia, além do mais, sua família. E se defendeu com galhardia no programa de rádio de que participa – ao vê-lo rebater a besteira injuriosa, não pude deixar de pensar em “the spurns that patient merit of the unworthy takes”, mas as palavras que a fúria diante da vilania polarizada colocou em meus lábios foram as de Mercutio: “A plague on both your houses!”

E para a mãe de Caio Coppolla, que se viu envolvida nesse mundo de baixarias porque é dela o sobrenome Coppolla, cumpre lembrar outro verso do grande poeta: “What’s in a name?  …a rose by any other name would smell as sweet.”

 

O grande poeta citado é William Shakespeare.

– “the spurns that patient merit of the unworthy takes”  –  monólogo de Hamlet em Hamlet, Ato III, Cena I

– “A plague on both your houses!” – fala de Mercutio em Romeo and Juliet, Ato III, Cena I

–  “What’s in a name?  …a rose by any other name would smell as sweet”  – fala de Juliet em Romeo and Juliet, Ato II, Cena II

 

Rosaura Eichenberg

11.02.2014 – sabedoria das crianças

O processo criativo nas crianças está em sua forma essencial: sem o gesso dos freios inibitórios, das influências calculadas, dos bloqueios dos pensamentos viciados. O João, de 5 anos, e o Pedro, de 3, ensinam essa lição diariamente, com gentileza e de forma absolutamente involuntária. A palavra dos pequenos está em seu formato e peso exatos. A observação que fazem do mundo que se apresenta é sutil, grata às novidades e surpresas. Tudo é muito espontâneo e organicamente visceral. As censuras e os moldes da palavra falada vão podando essa naturalidade de expressão à  medida que o diálogo vai se tornando um importante balizador do bem estar social. Lamentavelmente, essa adaptação – fundamental – da fala se reflete na escrita que possa vir a se desenvolver. A essência fica mascarada. Estilo, técnica e refinamentos são as ferramentas que nós, adultos, temos para resgatar esse estado de pureza essencial do significado. E, ainda assim, quase sempre ficamos longe, longe, longe do nosso objetivo. A sensibilidade, sem dúvida, é infantil.

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Juliana Eichenberg

08.02.2014 – como as crianças entendem as palavras

As crianças de nossos dias recebem uma carga de informações muito superior à de décadas atrás, o que nos leva muitas vezes a reagir espantados diante de seu desenvolvimento acelerado. Mas, como em toda e qualquer época, permanece extraordinário o seu potencial para aprender e compreender as coisas, e elas continuam a elaborar modos surpreendentes de entender o mundo. Os filhos pequenos da minha afilhada queriam saber o que eu fazia, o que era ser tradutora. Ela lhes explicou com carinho o meu ofício e acabou escutando de um deles: “Ah, já entendi. Ela ensina os personagens a falar português.” Ai, João, nem imaginas como é difícil dar essas aulas para os personagens. Eles vivem fazendo uma bagunça danada, numa algazarra incrível, uns embirram e nem querem abrir a boca, outros fazem de conta que entendem, mas começam a dar risinhos e a falar tudo errado, e ainda outros berram a mais não poder para ninguém compreender o que estão dizendo. Porém, no meio dessa verdadeira batalha, acontece às vezes que um deles, com a cara mais deslavada, começa a falar frases perfeitas, coloridas, sem erros, e a expressão de seu rosto diz muito claramente: lógico que sei falar a língua, essa professora pensa que não sabemos, mas é que ela custa a entender as coisas.

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Rosaura Eichenberg

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