de revoada

22.07.2014 – A Dança das Palavras

 

dylan 1963

Nos meus anos mais jovens (para lembrar um poema de Hölderlin), vi nascer dentro de mim uma paixão pelos versos do poeta, compositor e artista americano Bob Dylan. Paixão que ao longo do tempo só fez crescer, tornando-se cada vez mais intensa. A voz de Dylan é um pouco anasalada e sua dicção é única, isto é, não é fácil compreender o que canta, pois as palavras soam estranhas, principalmente para quem não fala inglês como língua materna.  Em tempos remotos, eu escutava com frequência uma de suas canções de amor chamada “It’s All Over Now, Baby Blue”. Uma canção muito bela sobre um amor que se desfaz. No meio dos versos pungentes mesmo quando irônicos,  eu escutava o amante dizer, entre palavras duras sobre ter de ir embora e tomar outro caminho:

“Take what you have gathered from cau-in-so-dance”

Era exatamente assim que as palavras soavam nos meus ouvidos, e eu não conseguia compreender que dança era essa. Eram tempos sem os recursos da internet, e eu não tinha agilidade suficiente para saber onde esclarecer a minha dúvida. Experimentei os nomes de várias danças que conhecia, e o termo mais próximo que encontrei foi calipso, mas sabia que não era isso porque não conseguia escutar nenhum “L” na voz de Dylan. Só bem mais tarde encontrei por acaso a letra da canção e li o seguinte verso:

“Take what you have gathered from coincidence”

E não pude deixar de sorrir para Bob Dylan. Tem razão, Mr. Dylan, eu me rendo. A coincidência é uma dança.

Rosaura Eichenberg

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