de revoada

03.04.2024 – Muito Além de Qualquer Efeito Especial

 

Em tempos de antigamente, meus pais decidiram levar todos os filhos a uma missa que celebrava a Páscoa daquele ano. Todos éramos crianças, acho que eu tinha 4 ou 5 anos.

A missa era à noite. Entramos numa igreja escura e meu pai recebeu uma vela para iluminar o caminho da família. Apesar de eu nada saber sobre o que estava acontecendo, via que a igreja estava mergulhada em sombras. Os santos nos altares cobertos de pano roxo, não se escutava música, apenas sussurros e os barulhos abafados de nós crianças. Nada de campainhas e sininhos. Acho que no momento em que deviam soar as campainhas, ouvia-se o som de madeiras batendo umas nas outras, eram as matracas. Um ambiente diverso, mas criança quer mais é conhecer o mundo e aceita modos de ser diferentes.

Aí, de repente, inesperadamente, nossos olhos se arregalaram. Como num passe de mágica, a igreja toda se iluminou, os panos roxos dos santos caíram por terra, as campainhas começaram a soar sem parar, a música estrondou no ar.  

Os meus poucos anos e total ignorância explicam, talvez em parte, o meu assombro. Em todo caso, nunca mais experimentei deslumbramento parecido. Esses filmes cheios de efeitos especiais me fazem rir, porque nem chegam perto da maravilha que então vislumbrei.     

 

Rosaura Eichenberg

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