de revoada

26.01.2014

No ano de 1978, Susi Schünemann Dantas, Patrícia Azarian, Márcia Castelo Branco e Thea Schünemann de Miranda criaram no Rio de Janeiro o Baukurs, um curso de língua alemã. Visavam a suprir a crescente procura pelo aprendizado do idioma alemão, além de promover o intercâmbio entre nossa cultura e a alemã. Sua coragem e trabalho vingaram, e hoje, passados 36 anos, o Baukurs, sob o comando de Thea Schünemann de Miranda, oferece um curso de alemão competente e criativo em sedes charmosas nos bairros de Botafogo e Barra da Tijuca. A partir de abril de 2010, Thea foi adiante e criou na sede de Botafogo, localizada muito apropriadamente na Rua Goethe, o Baukurs Cultural, que apresenta uma intensa programação de cineclube, debates, conferências, concertos (Haus Musik), além de promover “cursos nas mais variadas áreas de interesse: de filosofia, religião, cosmologia e arquitetura às artes cênicas, caligrafia e mosaico”. Um trabalho sério e também muito livre, que parece poder ousar e criar sem entraves oficiais. O Rio de Janeiro tem certamente um privilégio de poder contar com esse núcleo promotor de intercâmbio cultural. Maiores informações em www.baukurs.com.br .

Rosaura Eichenberg

21.01.2014 – O sítio de Budapest em 1944/45

A Companhia das Letras publicou em 2009 o romance Libertação do escritor húngaro Sándor Márai, tradução de Paulo Schiller. Uma visão do que foi o Natal de 1944 e o Ano Novo de 1945 numa Budapeste cercada pelo exército russo invasor, anunciando a libertação travestida de estupro.
Por sua vez, a editora Frutos, do Rio de Janeiro, publicou Despedir-se e Prosseguir – Relato baseado nos diários de Maria Dobozy, tradução de Maria Luiza Leão, que consiste num documento vivo da história da Hungria, desde o cerco da cidade de Budapeste pelo exército russo até a fuga da autora para o exílio em 1949. O livro pode ser adquirido no site da Editora Frutos – http://www.editorafrutos.com.br

Rosaura Eichenberg

19.01.2014 – Humpty Dumpty e as palavras

É grande o fascínio que as palavras suscitam. Em qualquer língua, elas revelam o espírito humano – ideias, emoções, o invisível dentro de nós. São certamente precárias, cheias de falhas na comunicação e na expressão, mas a linguagem é um dos instrumentos importantes que couberam à espécie humana. E mesmo com seu caráter fugaz, fragmentado, incompleto, seus recursos são infinitos.

Como a vida. Aliás, instrumentos de seres vivos, elas próprias têm vida. No dicionário podem adquirir uma aparência fossilizada, mas estão sempre prontas a retomar o ciclo vital. Os dicionários mais completos ou específicos registram suas mutações no tempo e no espaço. Por exemplo, basta dar uma olhada no tamanho dos verbetes do dicionário Oxford que indicam o uso da palavra ao longo dos anos, ou então examinar um dicionário de regionalismos. As palavras nascem, morrem, passam por mudanças, voltam ao passado, imaginam o futuro, enganam (essa é uma de suas características mais básicas), falam a verdade em meio a enganos, apontam para todas as direções e para lugar nenhum, entram e saem da moda, em suma, são precárias como a vida.

Um dos grandes mestres da literatura ocidental, o inglês Lewis Carroll (pseudônimo de Charles Dodgson) escreveu dois livros clássicos “Alice in the Wonderland” e “Through the Looking Glass” para as crianças e também para os mais velhos. No último livro, Alice tem uma conversa com Humpty-Dumpty, personagem das rimas infantis inglesas que possui a forma de um ovo, durante a qual esse lhe expõe uma teoria linguística. Depois de os dois discutirem os significados das palavras e Humpty-Dumpty explicar que paga às palavras um extra quando deseja que signifiquem mais alguma coisa, Alice retruca que a palavra que ele acabou de usar não tem o significado que está lhe atribuindo. Ao que ele diz:

Ilustração de Lewis Carroll

“Quando eu uso uma palavra”, Humpty-Dumpty disse num tom um tanto desdenhoso, “ela significa exatamente o que eu quero que ela signifique – nem mais, nem menos.”

“A questão”, disse Alice, “é se você pode fazer as palavras significarem coisas diferentes.”

“A questão”, disse Humpty-Dumpty, “é quem manda – só isso.”

Na lida com as palavras, o caminho é tão tortuoso como a vida e contém nossa cotidiana luta pela liberdade. Afinal, cabe a nós mostrar a Humpty-Dumpty, em todo e qualquer detalhe mesmo ínfimo do dia a dia, que o significado das palavras não depende só de quem manda. Depende do conhecimento adquirido e do estudo, da procura da expressão clara e da comunicação eficaz, depende do trabalho e esforço humano. A lida pode ser dura, mas é a nossa sina.

Rosaura Eichenberg

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