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O pai era médico – cirurgião geral. Estudou na Faculdade de Medicina de Porto Alegre, e obteve o grau de Doutor em Medicina em 1º de junho de 1934, quando apresentou a tese: “Anestesia Geral pela Avertina”.
Na cadeira de Clínica Cirúrgica, teve como mestre e amigo o Professor Doutor Guerra Blessmann. No curso de medicina, seu inseparável companheiro de estudos era, como diz na dedicatória da tese, o tio Heitor.
Natural de Alegrete, o Dr. Luiz Francisco Guerra Blessmann não se confinou em uma única especialidade na sua atuação médica, mas explorou vários campos sobretudo a cirurgia. Marcou igualmente presença nas áreas de ensino da medicina e do exercício profissional. Professor e chefe da Cadeira de Cirurgia da Faculdade de Medicina, exerceu por duas vezes o cargo de diretor dessa faculdade, além de ser eleito deputado em 1935 à Assembleia Constituinte Estadual, quando lutou pela regulamentação da profissão de médico no Rio Grande do Sul. Nas suas palavras: “Acresce ainda que, para nós, já há mais de um decênio afastados da frequência às salas de operação, a cirurgia já ia ficando relegada a um segundo plano, se bem que merecedora de nossa profunda simpatia e consideração. Com ela e por ela fizemos tudo que nos foi possível. Quando, há cerca de quinze anos nos foi exigido que mais ativamente nos empenhássemos com os problemas da educação médica e do exercício profissional, fomos obrigados a encerrar nossa atividade cirúrgica, sem dúvida exigente de muito esforço e dedicação.” Seu zelo pela cirurgia na sala de operação como médico, e na sala de aula como professor, parece ter sido a base da profunda admiração que o pai nutria por ele.
O pai exerceu a medicina a partir dos anos 30, com ênfase nos anos 40. Trabalhou por muito tempo na Enfermaria da Santa Casa de Misericórdia chefiada pelo Dr. Guerra Blessmann (Enfermaria Guerra Blessmann). Todos lembramos que a mãe levava para os doentes gelatinas e as mantas que tricotava.
Na década de 1950, devido a uma artrose que imobilizou dois dedos de sua mão, o pai deixou de operar e com isso interrompeu sua prática de cirurgião geral.
O exercício da medicina ocorreu sobretudo na década de 1940, tendo sido nesses anos que ele publicou muitos artigos em revistas de medicina relatando os vários desafios enfrentados ao tratar seus pacientes. O periódico que recebeu o maior número de artigos seus foi “Medicina e Cirurgia” – Revista da Diretoria de Saúde Pública Municipal de Porto Alegre. Cabe lembrar que a mãe datilografava os artigos que seriam enviados para publicação.
É bom registrar que o pai criticava a medicina praticada a partir da segunda metade do século XX. Uma medicina dividida nas suas várias especialidades, e muito dependente dos exames que a moderna tecnologia disponibilizava aos médicos. Dizia que os profissionais da saúde tendiam a negligenciar uma visão geral do funcionamento do corpo humano, e com isso perdiam a capacidade de fazer um bom diagnóstico. Segundo o pai, um bom médico sabe diagnosticar o distúrbio do paciente mesmo sem a parafernália de exames que hoje se tornaram praxe.
Seguem os vários artigos que foram escaneados e organizados de acordo com o periódico em que se acham inseridos e com a data de sua publicação. Estão exatamente como os filhos os recebemos quando o pai faleceu.
Durante o velório do pai que se realizou na casa da Rua Santo Inácio, observei, no estado de choque em que todos estávamos, um senhor desconhecido que repetia: “Ele salvou a minha vida”. É algo que deve acontecer com muita frequência à maioria dos médicos. Faz parte desse ofício intervir em prol da vida, como, por exemplo, fazendo um diagnóstico preciso e rápido de caso grave de apendicite que foi tão crucial para a saúde do Nando em criança. Assim é que cumpre lembrar que o pai foi médico, e seus artigos são um pálido registro de que exerceu sua profissão tão difícil com singular competência.