O famoso pianista do século passado, Arthur Rubinstein, dizia que se deve amar a vida incondicionalmente. Numa entrevista que concedeu aos 90 anos de idade, à pergunta de seu interlocutor – “Você disse frequentemente que é o homem mais feliz que conhece. Acho que as pessoas gostariam de saber quais são as fontes dessa felicidade.” – Rubinstein respondeu o seguinte:
“Minha felicidade, meu sentimento de felicidade, minha consciência da felicidade surgiu logo depois de uma tentativa de me matar. Quis me suicidar na madura idade de 20 anos, porque tinha chegado a uma espécie de hora zero, se é que posso chamá-la assim. Não havia nada para mim. Estava detido em Berlim a caminho de Paris. Não podia chegar até lá, porque não tinha dinheiro. Prometi voltar com algum dinheiro, mas não tive como arranjá-lo. Eu estava num hotel em Berlim, e depois de algumas semanas já não podia pagar pelo meu quarto. A mulher que eu amava muito era casada e prometeu divorciar-se, mas não se divorciou e rompeu comigo. Eu não ousava falar sobre tudo isso com meus pais, não tinha nenhum contato com eles, ninguém sabia onde eu estava. Tentei me suicidar, mas continuo vivo – não funcionou. Rebentou aquilo com que tentei me enforcar, e eu caí no chão. Eu me sentia infeliz, toquei um pouco de piano e depois fiquei com muita fome. Assim quando saí para a rua, eu de certa maneira tinha renascido. Estava desistindo da vida, aí então retornei para ela. Mas esse retorno foi muito estranho, porque de repente compreendi, com muita clareza, o quanto eu fora tolo. Que a vida não depende em absoluto de coisas como não pagar o hotel, ou uma mulher te abandonar, ou a carreira ser interrompida. A vida é o que ela te dá. Está diante de ti.”