de revoada

01.07.2024 – Os Comedores de Lótus

 

Os gregos da Antiguidade nos deixaram lições preciosas. Segundo sua linha mestra de pensamento, o homem deve viver e pensar dentro da sua realidade. Aprendendo a se conhecer, ele compreende que ninguém pode viver uma quimera, ninguém pode ser o que não é, pois caso contrário será destruído.

A Odisseia narra o retorno de Odisseu à Ítaca depois da Guerra de Tróia. Esta viagem é apresentada em duas partes – na primeira, Odisseu é posto à prova muitas vezes e tem de lutar para defender sua vida, afirmando-se como humano; na segunda parte, ele deve provar que é Odisseu. Aqui nos interessa a primeira parte, e vale examinar os desafios enfrentados em cada episódio.  Por exemplo, na última aventura desse trecho da viagem, Odisseu chega naufragado à ilha de Calypso, uma ninfa do mar que o acolhe, cuida dele e por ele se apaixona. Após 7 anos, Calypso quer se casar com Odisseu, mas para isso ele deve se tornar imortal. Os deuses da mitologia grega têm paixões iguais às dos humanos, mas uma diferença essencial – eles não morrem. Odisseu recusa a imortalidade e foge do casamento com Calypso para não deixar de ser humano.  Outro desafio é o encontro com Circe, outra ninfa do mar com poderes mágicos. Circe seduz e envenena os homens de Odisseu transformando-os em porcos. Com a ajuda de Hermes, deus da comunicação, Odisseu vence Circe e obriga a ninfa a restituir a forma humana a seus homens.  Em mais um desafio, Odisseu e sua tripulação encontram os Comedores de Lótus. São seres que vivem num estado letárgico por ingerirem lótus, que tem características narcóticas. Os lotófagos experimentam um sono pacífico e apático, uma existência sem luta e sem sofrimento, entregues apenas ao que lhes agrada. Uma morte em vida.

Não é assustador encontrarmos na nossa época desafios que os gregos em tempos remotos já souberam identificar, fazendo ecoar desde então um alerta importante para toda a humanidade?  O episódio de Circe não nos lembra a ideologia de gênero que procura envenenar a juventude humana atual para destruir sua identidade sexual e destroçar as novas gerações? E os mortos-vivos gerados pelo consumo de drogas não nos remete aos comedores de lótus encontrados por Odisseu? É recomendável voltar aos textos gregos antigos em busca de forças e recursos para enfrentar a vida de nosso século.

 

 

Rosaura Eichenberg

Copyright 2012 © Todos os direitos reservados à Íbis Literatura & Arte