Os leitores de obras literárias gostam de dar títulos grandiosos a seus escritores preferidos ou admirados, tais como ‘o maior poeta do nosso tempo’, ‘o maior escritor da língua portuguesa’. Na virada do século, essa tendência virou uma verdadeira mania. Todos queriam dar o seu palpite sobre os maiores escritores do século que findava. Lembro que também entrei na dança e arrisquei que o grande escritor do século, o grande Dichter, chamava-se Franz Kafka e que o maior poeta tinha escrito em português, Fernando Pessoa. Mas imagino que no fundo todos sabem que esses exercícios são divertidos para quem gosta de ler, mas certamente vãos. Muito mais importante que receber o título de ‘maior escritor’ é ser lido e apreciado.
É bem verdade que aprendi na escola, na universidade e em vários cursos que ‘Camões é o maior poeta da língua portuguesa’, e que muito mais tarde, após leituras e mais leituras, cheguei à conclusão, ora tão original, de que ‘Camões é o maior poeta da língua portuguesa’. Mas essas classificações podem às vezes desorientar.
O poeta Carlos Drummond de Andrade foi considerado o grande poeta brasileiro na segunda metade do século passado. Nos últimos tempos, tenho escutado e lido ressalvas quanto a esse julgamento. Alguns acusam um certo prosaísmo nos poemas de Drummond, e muitos o consideram discursivo e pouco moderno (isso soaria provavelmente engraçado nos ouvidos do poeta na década de 30) sem o rigor poético de João Cabral de Melo Neto. Ora, penso que atacando a primazia atribuída a Drummond na poesia contemporânea, muitos acabam cometendo erro grave, que é não reconhecer a excelência da sua poesia. Se ele é ou não ‘o nosso maior poeta’, pouco importa. Mas ler, apreciar e assimilar os seus poemas é um privilégio que seria muita burrice recusar ou menosprezar. Ele não está entre meus poetas favoritos, mas no começo do dia quase sempre lembro Drummond:
‘Lutar com palavras
É a luta mais vã
Entanto lutamos
Mal rompe a manhã.’