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12.02.2018 – Um Recado de Machado de Assis

 

Examinando um texto crítico de Machado de Assis, “Instinto de Nacionalidade”, escrito em 1873, encontrei um recado aos jovens escritores daqueles tempos que cai como uma luva em nossos dias. Diz ele:

“Outra coisa de que eu queria persuadir a mocidade é que a precipitação não lhe afiança muita vida aos escritos. Há um prurido de escrever muito e depressa, tira-se disso glória, e não posso negar que é caminho de aplausos. Há intenção de igualar as criações do espírito com as da matéria, como se elas não fossem nesse caso inconciliáveis. Faça muito embora um homem a volta ao mundo em oitenta dias, para uma obra-prima do espírito são precisos alguns mais.

Atualmente, quando as obras de arte parecem feitas de afogadilho, sem haver maturação na sua produção e recepção, vale escutar o conselho de Machado de Assis. Muitos escritos e imagens entram no turbilhão da web, conquistam fama efêmera, e logo são descartados. Por falta de maior reflexão sobre o tema, não afirmo que seu defeito principal seja essa precipitação, mas o fato de os produtos artísticos serem descartáveis é certamente sinal de que  há algo de podre no reino da Dinamarca. E acho que Machado de Assis acertou em cheio ao apontar o equívoco de querer igualar as criações do espírito com as da matéria. Fruto desse erro de monta, a arte acaba no mesmo grande lixo de matéria consumida. A sociedade moderna, globalizada e massificada, incute um novo modo de lidar com o tempo, e há que reconhecer as características e os muitos defeitos intrínsecos dessa mudança. Repito Machado de Assis, que os clássicos têm muito a nos dizer:

“Faça muito embora um homem a volta ao mundo em oitenta dias, para uma obra-prima do espírito são precisos alguns mais.”

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