O processo criativo nas crianças está em sua forma essencial: sem o gesso dos freios inibitórios, das influências calculadas, dos bloqueios dos pensamentos viciados. O João, de 5 anos, e o Pedro, de 3, ensinam essa lição diariamente, com gentileza e de forma absolutamente involuntária. A palavra dos pequenos está em seu formato e peso exatos. A observação que fazem do mundo que se apresenta é sutil, grata às novidades e surpresas. Tudo é muito espontâneo e organicamente visceral. As censuras e os moldes da palavra falada vão podando essa naturalidade de expressão à medida que o diálogo vai se tornando um importante balizador do bem estar social. Lamentavelmente, essa adaptação – fundamental – da fala se reflete na escrita que possa vir a se desenvolver. A essência fica mascarada. Estilo, técnica e refinamentos são as ferramentas que nós, adultos, temos para resgatar esse estado de pureza essencial do significado. E, ainda assim, quase sempre ficamos longe, longe, longe do nosso objetivo. A sensibilidade, sem dúvida, é infantil.