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[1922 – Suíça]

Janeiro 17.   Tchekhov cometeu um erro ao pensar que, se tivesse tido mais tempo, teria escrito com plenitude, teria descrito a chuva, a parteira e o doutor tomando chá. A verdade é que só se pode colocar um tanto numa história; comete-se sempre um sacrifício. É preciso deixar de fora o que se conhece e se deseja usar. Por quê? Não tenho a menor ideia, mas é assim. Sempre uma espécie de corrida para se conseguir introduzir o máximo possível antes que desapareça.

Mas o tempo realmente não conta. Porém, espere. Não compreendo nem mesmo agora. Sou perseguida pelo tempo. A única vez em que me senti à vontade foi quando escrevi The Daughters of the Late Colonel. Mas, no final, estava tão terrivelmente infeliz que escrevi o mais rápido possível por medo de morrer antes de poder enviar a história. Gostaria de experimentar esta sensação, trabalhar realmente à vontade. Só assim pode ser feito.

 

Janeiro 22.   Lumbago Isto é uma coisa muito estranha. Tão repentina, tão dolorosa. Tenho de me lembrar disso quando escrever sobre um velho. O impulso para levantar-se – a pausa – o demorado olhar de fúria – e de como, deitada à noite, tem-se a impressão de se estar trancada. Mover-se é uma agonia, até que finalmente se descobre um movimento possível. Mas a sensação de incapacidade nas pernas antes disso!

 

Janeiro 23.   …lembrar o som do vento forte, demolidor. Caminhar pelo passeio quando o vento arrasta o mar. O vento do verão, tão brincalhão, que se embalou e balançou nestas árvores. E o vento correndo pela grama, de modo a fazê-la estremecer. Isso me desperta uma emoção que nunca compreendi. Sempre vejo um campo, um cavalo jovem – e há uma menina dinamarquesa muito linda, contando-me algo sobre seu padrasto. O nome da menina é Elsa Bagge.

 

Janeiro 24.   Escrevi e terminei Taking the Veil. No final, levei quase três horas para escrever a história. Mas já pensara no décor e tudo o mais há semanas – não, meses, creio. Não posso dizer como agradeço por ter nascido na Nova Zelândia, por conhecer Wellington como conheço e por tê-la à mão para poder percorrê-la. Escrever sobre o convento pareceu tão natural. Acho que não estive no local mais do que duas vezes. Mas é um desses lugares que permanecem vívidos como nunca. Não devo esquecer o nome de Miss Sparrow, nem o nome de Palmer.

 

Janeiro 29.   H. veio. Diz que meu pulmão direito está praticamente são. Pode-se acreditar em tais palavras? O outro está bastante melhor. Ele acha que meu coração me dará bem menos trabalho num nível [de altitude] mais baixo. Será verdade? Estava tão esperançoso hoje que a tuberculose não parecia mais um flagelo. Ficou a impressão de que os casos de recuperação são mais frequentes que os fatais. Não é fantástico?

Arrumei todos os meus papéis. Rasguei e destruí muitos inexoravelmente. Isso sempre me dá grande satisfação. Quando me preparo para uma viagem, é como se me preparasse para a morte. Se nunca voltar, está tudo em ordem. É o que a vida me ensinou.

De noite escrevi a Orage sobre seu livro. Levei uma semana para escrever a carta. J. e eu como que envolvidos num jogo incessante durante todo o dia. Sinto que há muito amor entre nós. Amor terno. Que não mude!


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