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Entrevista

Angela Melim

Nos anos 70, uma excursão a Arraial do Cabo para conhecer Angela Melim, que naquele fim de semana não se materializou na paisagem marinha onde ela vive hoje em dia, três décadas mais tarde. Mas entre a invisibilidade da Angela na praia de então e sua distância à beira do mar nos dias que correm, aconteceram muitos contatos, conversas, leituras, tudo sempre luminoso e surpreendente como uma marinha de Pancetti. Esta carioca, nascida em Porto Alegre, andou por vários países, inclusive pela Rússia, nos seus anos de formação, mas fixou residência no Rio de Janeiro onde, descontando-se o hiato de dois anos de estudo em Londres, trabalhou como tradutora, criou os filhos, escreveu poemas e prosa, atuou como militante política – múltiplas atividades que há dois anos passou a exercer entre o mar, a praia e os pescadores de Arraial do Cabo. Ao longo do tempo, em flashes, o lançamento de seus livros, sua participação no movimento da poesia marginal, um artigo de duas páginas escrito por Ana Cristina César num suplemento cultural sobre o livro Os Caminhos do Conhecer que Angela acabara de publicar, o trabalho em conjunto com Cleber Teixeira que resultou na edição de vários livros seus pela editora artesanal Noa Noa, a livraria Noa Noa que criou e manteve por quase dois anos em Copacabana, local de eventos culturais e de encontro de poetas, a militância política entusiasmada sem turvar a limpidez da escrita, as traduções cobrando trabalho por vezes ingrato, sua atuação em oficinas de poesia, o humor afiado, mas a elegância constante na postura, no sorriso, na fala e na escrita. Angela tem publicados os seguintes livros de poesia: O Vidro O Nome, Das Tripas Coração, As Mulheres Gostam Muito, Os Caminhos do Conhecer, Vale o Escrito, Mais Dia Menos Dia, Poemas, Possibilidades.  Na Coleção Ciranda da Poesia da Editora da Universidade do Rio de Janeiro, o ensaio Leonardo Fróes por Angela Melim.

Foi num fim de tarde do verão de 2009 (29 de janeiro) que a Íbis bateu um papo com a poeta Angela Melim no Museu da República no Rio de Janeiro. Num encontro meio desnorteado, descobrimos já não haver no jardim as cadeiras de um antigo bar que ali funcionava, e quando nos sentamos num banco embaixo de uma árvore, o temporal estrondou em cima das nossas cabeças e nos obrigou a sair em busca de um canto abrigado onde pudéssemos conversar. Só conseguimos nos instalar nos degraus de uma imponente escada de madeira de um anexo do museu, mas o cenário não deixava de ser elegante no conforto que nos proporcionava, enquanto a chuva estalava no cimento e na terra. Uma conhecida da Angela passou por nós e perguntou admirada: “Perdida por aí?” Ao que a Angela respondeu: “Estou achada.” E certamente até o cenário e as circunstâncias do encontro falavam da Angela e de seus poemas nessa mistura de trovões, chuva desbragada, palavras pronunciadas às vezes com escracho, mas sempre se harmonizando numa fineza diria até aristocrática, se essa palavra não soasse dissonante no contexto de uma lutadora de convicções socialistas. Mas as contradições convivem bem na maneira de ser e nos poemas da Angela, criando uma riqueza especial toda sua. Ao responder a uma das perguntas, ela diz ter que “pensar um pouco para responder com mais sentimento”. É com muita honra que a Íbis apresenta a nossa conversa, pois as frases da Angela vêm carregadas do que vive, pensa e sente uma poeta em ebulição.

 

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Você quer saber de quais poetas eu gostava. Eu desde cedo adorava ler. Adorava ler tudo. Passava o dia inteiro lendo. Lá em casa tinha uma varanda, com umas cadeirinhas de ferro, eu ficava o dia inteiro ali sentada, lendo tudo, tudo: gibi, Tarzan, Viagens de Gulliver. Monteiro Lobato, eu era apaixonada por Monteiro Lobato, até hoje eu sou. E tinha uma enorme coleção lá, uns livros vermelhos, era O Mundo da Criança, O Tesouro da Juventude, e esses livros tinham poeminhas, historinhas… Eu amava, adorava ler aquilo tudo. E mais tarde comecei a conhecer poetas de verdade, e quem me deu mais vontade de escrever é o Manuel Bandeira.

Numa certa altura da minha vida, resolvi estudar, conhecer a literatura brasileira. Aí eu peguei e comprei várias antologias e histórias da literatura, e comecei a ler desde lá detrás, tudo, tudo, tudo… desde Santa Rita Durão, Padre Anchieta, depois os mineiros, os inconfidentes, Basílio da Gama… Olha, eu li tudo o que encontrava, pelo menos uma amostra de cada um, eu conheci tudo, tudo que aparecia nas histórias da literatura. E eu me encantava com todos, cada um por um motivo. Eu gostava muito da parte do romantismo. Do Raimundo Correia, eu gostava. Depois os modernistas, eu adorava. Cheguei nessa altura a Carlos Drummond, João Cabral, Cecília Meireles, Manuel Bandeira, de quem eu já falei, que são os preferidos, os que mais me encantaram.

E quanto aos estrangeiros?
Não, eu comecei mesmo com a literatura brasileira. Eu lia muita coisa de fora, só que não poesia. Eu me mudei para Moscou muito cedo, com onze anos eu fui morar em Moscou. E o meu padrasto tinha muitos livros, e sempre me dava coisas para ler, ele comprava coisas para jovens, e geralmente era prosa. Então lembro que eu li uma porção de livrinhos… Mrs… Mrs… Harris… esqueço o nome do autor… ah, Paul Gallico… que era uma coisa muito ligeira… E também tudo da literatura europeia e norte-americana que ele achava que era para criança, ele dava para a gente ler. Mas não poesia, era mais prosa, geralmente prosa.

Eu não conheço muito bem os poetas estrangeiros. Conheço uma  coisa ou outra. Depois me interessei por Yeats, pelo Donne, pelo T. S. Eliot, mas isso já foi bem mais tarde, quando eu estive na Inglaterra, fazendo um curso sobre poesia e literatura inglesa. Aí conheci também os mais novos, a Sylvia Plath, o seu marido Ted Hughes, e outros dessa época que eu estudei  num curso do Instituto City Lit, quando eu fui morar em Londres. Passei quase uns dois anos lá na Inglaterra. Isso foi na década de 70, mas eu só vim a conhecer essa poesia bem mais tarde. E não é o  meu forte, poesia estrangeira. Poesia, eu gosto de ler em português.

E os poetas de Portugal?
De Portugal, também conheço pouco. Muito recentemente, eu vim a conhecer a Sophia de Mello Breyner Andresen, de quem eu gosto muito, acho fantástica. Mas até então era aquela coisa de colégio, não conhecia muito não. Fernando Pessoa, Eça de Queirós, Camões, a gente lê no colégio, mas não era estudo a fundo, eu não estudei nada disso a fundo.

Como é que começou a escrever?
Pois é, a minha questão sempre foi o Brasil. Eu tinha uma necessidade – é o que acho hoje em dia – de falar do Brasil, de pertencer a este país, de achar uma linguagem que falasse desta terra, deste modo de ser daqui, da gente. Eu tinha quase uma obsessão com essa questão da identidade nacional e da cidadania.

Eu acho que foi por aí que eu comecei a escrever. Na maior parte do que eu escrevi, falo muito do local, do Brasil, da maneira como a gente fala aqui. Não sei se você, nas suas leituras atentas de meus poemas, prestou bem atenção nisso. É sempre uma coisa muito local, muito regional.

Como foi seu primeiro livro?
“O Vidro O Nome” era um livro ainda sem muito estofo. Acho que eu estava começando, aprendendo a lidar com as palavras. Foi o primeiro. Depois veio “Das Tripas Coração”, que tem uma parte que eu escrevi em Londres, justamente sempre falando do Brasil, remetendo para os brasileiros e tal. E outra parte que foi escrita aqui, que também é completamente brasileirinha.

Qual o livro que mais te agradou?
Não sei, eu acho que há poemas de que eu gosto mais em cada um. Claro que a gente prefere a última coisa que a gente fez. Mas hoje, vendo em retrospectiva, há coisas de que eu gosto muito e outras de que eu não gosto tanto. Por exemplo, eu tenho um poema que diz assim:

 

COISAS ASSIM PARDAS

                               Para Eduardo

Canário-da-terra, marreco, chinfrim
coisas assim, nomes – Rita
coisas assim pardas, mestiças
de pequeno porte
coisas de fibra
embora os jeitos desvalidos
coisas pardas vivas
pulsantes
um poema assim.

 

Não sei se eu falei todo o poema direito. Um poema de que eu gosto muito até hoje, mas de outros eu já não acho tanta graça. E eu gosto das últimas coisas, dessa nova fase que tá vindo aí.

Pelo visto, você guarda a preocupação modernista com a identidade nacional.
Continua até hoje. E acho que cada vez com mais propósito, porque a gente fica cada vez mais desnacionalizado. A globalização desmonta, desmancha tudo que é local, pessoal, característico, etc., em todos os sentidos, da comida à maneira de falar.

E o que você me diz sobre a Noa Noa?
A Noa Noa foi um dos desejos na minha vida que consegui realizar. Muita gente tem esse desejo de ter uma livraria, eu também sentia assim e tive a livraria. (Livraria Noa Noa – que em 1979 ficava localizada no Shopping Cassino Atlântico em Copacabana, Rio de Janeiro) Ela faliu, mas a gente pagou todo mundo, não ficou devendo a ninguém. E durou um ano. A gente fez muita coisa lá, exposição de bons artistas, lançamento de maravilhosos escritores, poetas. Reuniu muita gente lá, era um momento muito fértil da nossa cultura. Eu não me lembro mais do ano, porque eu nunca lembro data. Mas durou só um ano e pouco a livraria, porque o espaço ali era para ter conexão com o hotel [o Hotel Sofitel fica perto do Shopping Cassino Atlântico – pelo lobby do hotel, o hóspede tem acesso direto ao shopping], mas houve uma briga entre a administração do hotel e a do shopping e eles fecharam a passagem, e com isso os turistas não iam até a livraria fazer compras. Íamos ter um setor de paperback, de livros estrangeiros, para garantir o funcionamento da livraria.

Havia uma ligação com a editora Noa Noa do Cleber Teixeira? (Cleber Teixeira, poeta carioca residente em Florianópolis, é dono da editora Noa Noa, responsável pela publicação de livros artesanais, de grande valor cultural e esmerada composição tipográfica)
Não exatamente, só porque nós éramos amigos. Eu pedi emprestado o nome, e como ele também editou vários livros meus, usamos a mesma marquinha, aquela avezinha redonda. Era só mesmo o nome que ele me deixou usar, mas não tinha nada de ligação formal, nem de empresa, nada disso.

E o que me diz sobre o trabalho do Cléber?
A gente vendia na livraria as coisas que ele editava.

O trabalho do Cléber era tão maravilhoso…
Ainda é, ele ainda trabalha. É um trabalho bonito, maravilhoso. Eu acho que ainda continua sendo.

Foi bom ter sido publicada por ele, não?
Ótimo, maravilhoso. Eu me sinto muito honrada.

Quantas obras suas foram editadas pela Noa-Noa? Três ou quatro?
Não sei… “As Mulheres Gostam Muito”, “Das Tripas Coração”, “Poemas”, “Os Caminhos do Conhecer”.

E ele publicou também traduções suas?
Eu fiz para ele uma traduçãozinha da Virginia Woolf, uma de haicai, não me lembro mais.

Uma do W. H. Auden?
Do Auden. Esse livro é ótimo. Uma aula inaugural na Universidade de Oxford, quando o poeta foi convidado a ser professor de poesia em Oxford.

Qual é o conselho que você  daria para um jovem poeta?
Leia muito.

Antes de escrever?
Leia muito, e vá fazendo seus rabiscos. Mas, principalmente, leia muito, porque é daí que vem… A não ser que ele seja um poeta oral, não saiba ler nem escrever. Aí vale o que ele ouve.

Você sempre demonstrou um interesse pela situação social e política do Brasil e até do mundo.  Você acha que existe a possibilidade de juntar pensamento político e pensamento poético?
Eu não sei se os poemas juntam poesia e política, mas tudo está junto. Na minha poesia, está lá toda a minha forma de pensar. Eu tenho uma maneira muito política de estar no mundo. Eu tenho muitas opiniões sobre quase tudo, pelo menos sobre o que eu conheço. Muitas opiniões, e fortes opiniões. Socializantes e antiglobalização, antidesperdício, anticonsumo, antidestruição do meio ambiente, antiamericanos…

É verdade que os artigos de José do Patrocínio na campanha contra a escravidão foram quase esquecidos, mas os versos de Castro Alves ainda estão vivos.
É. Talvez nesse sentido mesmo. Não que eu fale diretamente, eu até acho que falo um pouco dessas coisas, mas, de um modo geral, o fato de você estar afirmando a cultura do seu lugar, sempre afirmando, valorizando, chamando atenção para ela, é uma maneira de você impedir que outras  coisas tomem esse espaço. O desejo das megapotências é de arrasar, fazer tábula rasa de tudo o que é outra cultura. Agora é que começou a haver, de uns anos para cá, essa história de respeito às multirracialidades, à diversidade cultural e tal. E há muitos anos que eu já tento fincar pé na importância que é a gente ter a nossa maneira de ver o mundo, de pensar e de se relacionar, de fazer as festas e de chorar os mortos, cada um a seu modo, sem ter que ser todo mundo igual, o mundo inteiro no planeta todo.

Você conhece o ensaio crítico de Machado de Assis chamado Instinto de Nacionalidade?É um texto sobre a literatura brasileira, sobre a importância dos românticos em nossa formação literária, em que Machado acaba apontando que, passada a primeira fase de afirmação da nacionalidade, os escritores devem procurar se  exprimir de outra maneira, focalizando menos os aspectos exteriores e procurando revelar o sentimento interior de ser brasileiro. Em palavras menos refinadas, é como se ele dissesse que ninguém precisa se fantasiar para ser brasileiro.
É ser… É ser brasileiro.

E quanto ao isolamento do poeta na sociedade? À impossibilidade de uma ação social ou política dos poetas?
Aí depende. Acho que depende… Por exemplo, Maiakovski teve uma atuação política direta, e é um poeta grande, bom. Eu tive um pouco de dificuldade – não que eu esteja me comparando com Maiakovski, mas como fui militante política, estou fazendo uma comparação apenas quanto a esse ponto. Os nossos militantes e as pessoas que estão na política muito raramente se interessam pelo estético de um modo geral. Eles dão um mergulho total na parte social da política e têm muita dificuldade de encarar o mundo com outros olhos, não têm aquela perspectiva artística nem na literatura, nem… Talvez só na música, porque a música aqui é uma coisa que perpassa mais a nossa sociedade. Mas mesmo assim… Por exemplo, quando vão ao cinema, eles vão ver um filme americano. Muitos dos meus companheiros socialistas preferem um filme estrangeiro a ver um filme brasileiro que trata dos problemas nacionais, daqueles problemas pelos quais eles estão se batendo. Então, eu tive dificuldade e isolamento nesse meio, mas claro que sempre há um ou outro indivíduo, um ou outro grupo, que também tem algum pendor, que valoriza esse outro lado. Mas, de modo geral, poesia é uma arte de ponta que não é popularizada. Ela até se torna coletiva –  quantos não conhecem de cor poemas que lemos no colégio, etc. e tal. Ela se torna coletiva com o tempo, mas não é na saída do forno da fábrica que ela é conhecida.

Muita gente conhece de cor aqueles versos do Casimiro de Abreu: “Que amor, que sonho, que flores / Naquelas tardes fagueiras / À sombra das bananeiras / Debaixo dos laranjais”. Mesmo gente que não é ligada à literatura, porque fica do tempo do colégio aquela música no ouvido. Então eu acho que quando você tem isso como disciplina escolar, você até aprende, gosta mais ou gosta menos, mas a poesia fica coletiva, fica propriedade ou patrimônio daquele povo. Como as letras de música.

Existe algum isolamento dos poetas, sim. Você não quer as mesmas coisas que a maioria das pessoas deseja, quando você é poeta. Você quer prestar atenção em determinadas coisas. Então isso te separa um pouco da maioria.

A minha impressão é que o poeta vai contra a corrente.
Talvez. Porque está todo mundo indo para o lado errado. Verdade. Muita gente é levada a só querer comprar, comprar, comprar… bater, matar… ser egoísta…

E quanto ao choque da poesia? O choque que às vezes sentimos ao ler um poema?
É uma revelação. Uma forma de conhecimento. Outro dia eu falei isso, porque eu estava dando uma oficina para uma turma de pessoas que estudam filosofia e poesia – o nome do curso deles é esse. E eu penso que a poesia é uma maneira de conhecer o mundo, é como se fosse uma ciência, só que de outro tipo. Uma forma de dar nome a eventos ou situações ou sensações que não tinham nome. Você dá nome para coisas novas. Eu penso que isso tem a ver com… sei lá… uma forma algo epistemológica. Talvez.

É um choque no leitor…
Um nome para uma situação que você identifica, que você reconhece.

Ou que estava só no inconsciente.
É, você tinha a intuição, porque é o pré… Antes de uma coisa ser consciente, ou seja, antes de você poder falar sobre ela cerebralmente, ela está pré-consciente. Ela já está em você, é uma forma, uma coisa conhecida, mas não pelo cérebro. É conhecida por outros mecanismos captadores. Só depois é que você leva esse conhecimento para o cérebro, e a partir daí pode até transmitir ou reproduzir, traduzir.

E qual é a tua perspectiva de trabalho no momento?
Agora a única coisa que eu desejo é fazer meus livrinhos infantis. Eu estou com eles há muitos anos, eram umas historinhas que eu contava para os meus filhos. São quatro historinhas, bem pequenininhas, para crianças pequenas. Eu estou com dificuldade de editar. Quero usar os desenhos que o Bernardo fez, o meu irmão que morreu. Vou me dedicar a isso em 2009.

“Tudo muda. A única coisa permanente é que tudo muda.” Essa é a base do milenar pensamento chinês. A poesia reflete essas mudanças na vida, o fluxo vital?
Para falar sobre isso, eu teria que pensar um pouco, para responder com mais sentimento. Eu acho que a poesia vai refletir todo o nosso modo de ser, de pensar, de sentir. E se a gente sente e pensa dessa maneira, certamente que isso vai aparecer. Mas eu acredito que existe alguma permanência. Pelo menos, na história da humanidade, a gente tem registro de cantos, de repentes, de trovas, e depois de uma literatura que foi ficando cada vez mais elaborada – então existe alguma permanência. E existe uma evolução também, que se pode captar.

E quanto a mudanças na tua poesia?
É, eu acho que houve – um domínio maior do instrumento, das ferramentas. Mudança nesse sentido, mas o que a gente quer mesmo é cantar, exaltar, dar nome.  E, nesse sentido, é a mesma coisa sempre. Desde a primeira vez até….

Eu não sabia desse teu norte.
É o meu sul.
Conhece aquela música do Piazzolla? Vuelvo al Sur. É linda essa música, o Caetano gravou.

 

pancetti2Marinha –  José Pancetti

A entrevista acabou por aqui, talvez longa demais para o gosto da Angela, que disse: “Não é bom uma entrevista muito grande, porque enche o saco. Tem que ser tudo em doses diminutas.” Mas continuamos a conversar sobre o seu trabalho, e surgiu a lembrança de um poema muito belo que ela escreveu à época da publicação de Poemas pela Editora Noa Noa. Com a devida autorização da poeta, a Íbis gostaria de concluir com ele esse encontro com Angela Melim.

       Todas As Rosas Escuras

                                                             Para Márcia

Todas as rosas escuras e macias,
olhos
por que o veludo espia
são o sal
grosso
o mar ardido
que se amansa um pouco todo dia
o mar revolto
que se alisa com as mãos
e a boca
palavras introvertidas
pudor pálpebras
átimo
úmido e esmalte
que cintilam.

 

 


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