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[1908 – Nova Zelândia]

Maio. Acabei de ler um livro de Elizabeth Robins, Come and find me. Realmente um livro inteligente, brilhante; gera em mim uma forte sensação de poder. Sinto que agora percebo, vagamente, do que as mulheres serão capazes no futuro. Até o presente, na verdade, nunca tiveram chance alguma. Falem de nossa época esclarecida e de nosso país emancipado – puro absurdo! Estamos firmemente presas com correntes de escravidão, por nós próprias fabricadas. Sim, compreendo agora que elas são criadas por nós, devendo ser por nós próprias removidas. Eh bien – e onde estão meu ideal e ideias de vida? Oscar – e há uma gardênia ainda viva ao lado da cama – Oscar continua a manter um domínio tão seguro sobre minha alma? Não, porque estou me tornando capaz de ampliar a minha visão – um pequeno Oscar, um pequeno Symons, um pequeno Dolf Wyllarde – Ibsen, Tolstoi, Elizabeth Robins, Shaw, D’Annunzio, Meredith. Tecer a tapeçaria intrincada da vida é como tomar um fio dentre muitas meadas harmoniosas – e compreender que tem de haver harmonia. Desnecessário criar as ovelhas, cardar a lã, tingi-la e estampá-la – mas tomar alegremente tudo o que já está pronto e, com esse tempo poupado, avançar bem mais adiante. Independência, decisão, vontade firme, o dom da discriminação, clareza mental – eis os inevitáveis. Ainda, Will – a compreensão de que a Arte é, positivamente, desenvolvimento individual. O conhecimento de que o talento existe latente em todas as almas – de que é esta individualidade, presente na raiz de nosso ser, que importa mais agudamente.

Aqui, portanto, um pequeno sumário do que preciso – poder, riqueza e liberdade. A doutrina irremediavelmente insípida de que só o amor importa neste mundo, ensinada, martelada na cabeça das mulheres, de geração a geração, é que nos tolhe cruelmente. Temos de nos livrar desse fantasma – e então, então surgirão as chances de felicidade e liberdade.


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