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Não Ficção

Algumas Notas

 

O mundo me passa
os dedos pelo cabelo
querendo me arrancar
do ponto de equilíbrio.
O cansaço fecha
por momentos
os olhos,
mas a mão não descuida
e já agarra
o mundo que caía.
aaaaaaaaaaoutubro 1984

 

Tenho para mim que não basta
aaaaaa mão vazia.
As montanhas azuis são
aaaaadistantes
As violetas pedem
aaaaaágua da chuva
As pombas voam
aaaaabonito
Meu coração se despe
aaaaano entardecer.
Diz, o que mais é preciso
aaaaapara te convencer?
aaaaaaaaaaaaamaio 1984

 

E o prejuízo que pretendo te dar
fica para um ajuste futuro.
Cinco vírgulas a mais,
Os espinhos no coração.
O aperto de mão
sela os cacos de nossos sonhos.
aaaaaaaaaaaaaaaaajunho 2005

 

Senhora,
devo esperar
com rituais e doces palavras?
Se única
irreversível
por que aparecer
de quando em vez
como fiapo que mal se vê
na trama do tecido e destecido?
Senhora,
guardo.
aaaaaaaaaasetembro 2006

 

Se amortecida esta fúria,
escutar-se-á
a frase límpida
subindo ao céu?
aaaaaaaaagosto de 2011

 

E o demônio
me considera
nas suas roupas apertadas
E eu o encaro
com olhos reflexivos
e sussurro
a luta continua
sempre.
aaaaaaaajulho 2010

 

Meu rosto marcado
que um sorriso tenta anular
nada na mão
aaaaaaaaaae lá no  alto
aaaaaaaaaamais alto
aaaaaaaaaamais alto
aaaaaaaaaasempre mais alto
o sofrimento amesquinha
aaaaao desejo
aaaaaaaasôfrego
aaaaaaaaaaadas cores a desfilar
Tom sobre tom.
aaaaaaaaaaaajaneiro 2013

 

        Aula de piano

Quando calar
para que a voz
dome o tempo?
Sem adiantar
os compassos
porque senão
os passos
não soam juntos
e perde-se o momento.
aaaaaaaaaaaagosto 2013

 

aaaaaaaapara Cleber Teixeira

Teu rosto devastado
por intempéries
agrestes
Teu olhar ambíguo
de quem enxerga
um lado que não se vê
Sofisticado semeador
inconteste
Tua ironia de costume, cadê?
aaaaaaaaaaaaasetembro 2012

 

Amor
frágil tempo
desfaz-se ao vento
Mas o laço
não tem como se romper
e apenas sorri das tentativas
mar adentro.
aaaaaaaaasetembro de 2011

 

Sinto a onda vindo
avultando
recuando
as mãos catando
os resquícios
pingando
da água
sacudindo
o olhar em luz.
aaaaaaaanovembro de 2010

 

O fruto só amadurece
depois de a natureza
golpeá-lo sem dó,
a ele, ali sozinho,
indefeso,
pendente do galho?
aaaaaaaaafevereiro de 2012

 

Sem aviso
acolheu as faíscas
aaaaaaaaa dois passos
mergulhou fundo
as lágrimas lembram
aaaaaaaamarulhos antigos
Tudo bem contigo?
Tudo bem, e você?
Sorrisos cambaleantes
aaaaaaaaana linha que mal se vê.
aaaaaaaaaaaaadezembro de 2013

 

Oh, sim
do erudito
ao erodido
tropeça
no intervalo
o sagaz.
Porque fugaz,
lembra o sino,
mármore
branco de sol.
Sopesadamente
acontecido,
no alvo
o pingo
afunda em paz.
aaaaaaaadezembro de 2006

 

Os sentimentos são mudos.
Quando deles falamos
É das sombras que restaram
Vagas
Distantes do cataclismo.
Os resquícios desses ecos
A única voz possível.
aaaaaaaaadezembro de 1999 

 

Dar a ver o que há
se nada houver
ver-se-á que não há
em nada havendo
revela-se o negativo
e o que não há
Dá a ver o que há
aaaaaaaoutubro de 1999


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