31 de outubro de 1920
… Você fala exatamente o que eu pretendia escrever na minha carta. Também sinto que não quero um Deus a quem apelar – só apelo ao espírito que existe dentro de mim.
Você diz que “[gostaria] muito de saber exatamente o que sinto” – pensei que lhe tivesse dito. Mas minha escrita é tão ruim, minhas frases tão vagas, que suponho não ter me expressado com clareza. Vou tentar.
…………….“Between the acting of a dreadful thing
What a…..….And the first motion, all the interim is
book is……..Like a phantasma or a dreadful dream;
hidden………The genius and the mortal instruments
here!……….Are then in council; and the state of man
…………….Like to a little Kingdom suffers then
…………….The nature of an insurrection.”
……………“Entre a execução de uma coisa terrível
Que……….. E o primeiro movimento, todo o ínterim lembra
livro………..Um fantasma ou um sonho terrível;
está…….…..O gênio e os instrumentos mortais
oculto………Acham-se então em conselho; e a condição do homem,
aqui!……….Como a de um pequeno Reino, sofre então
……………A natureza de uma insurreição.”
A “coisa” nem sempre foi “terrível”, tampouco o sonho, e você deve substituir gênio por “espírito”. Fora isso, você tem aí a minha vida, como a vejo até agora – completa com todos os alarmes, entusiasmos, terrores, excitações – na verdade, a natureza de uma insurreição.
Muitas vezes tive uma vaga consciência disso tudo – vivi momentos em que me parecia que não era assim que o meu pequeno Reino deveria ser. Sim, e senti desejos e remorsos. Mas só depois de me afastar desta vez é que compreendi inteiramente. De certa forma confrontei-me comigo mesma, olhei de frente para as extraordinárias “condições” da minha existência.
…Não foi lisonjeador, nem prazeroso, nem fácil. Acho que seus pecados pertencem ao subconsciente; são mais fáceis de perdoar que os meus. Você é, sei disso, uma natureza muito mais nobre e forte. Cometi os meus pecados e depois desculpei-os, ou afastei-os com um “não adianta pensar sobre estas coisas”, ou (mais frequentemente) um “foi tudo experiência”. Mas nem TUDO foi experiência. Há desperdício – e também destruição. Assim, Bogey – e minha inspiração foi o nosso amor: nunca deveria ter agido de outra forma – eu me confrontei. Ao escrever, falsifico um pouco. Não posso evitar, é tudo tão difícil. Todo o problema foi tão mais profundo e mais difícil do que descrevi – mais sutil – menos consciente e mais consciente, se entende o que quero dizer. Sabe, querido, não andei de um lado para outro no quarto, resmungando. Como estou falando com você, ouso dizer que tudo se passou num outro plano, porque então podemos sorrir da descrição, sem perder, entretanto, seu significado.
Mas, como disse, minha inspiração foi o Amor. Foi a compreensão última de que a Vida para mim era intimidade com você. Outras coisas juntam-se a esse fato. Mas esta é a minha vida nesta terra. Vejo realmente o Conto de Fadas como a nossa história. É um símbolo tremendo. O Príncipe e a Princesa casam-se no fim e vivem felizes para sempre, como Rei e Rainha, no seu reino. Uma verdade tão profunda como qualquer outra. Mas prefiro falar com você a escrever. Sinto que – só agora podemos conversar.
E não quero sugerir que a Batalha tenha terminado e que eu esteja aqui vitoriosa. Fugi de meus inimigos – emergi – foi até onde consegui chegar. Mas é um estado de ânimo diferente de todos os que experimentei até hoje, e, se fosse “pecar” agora, seria mortal.
Pronto. Perdoe esta declaração comprometida, cheia de divagações. Mas, meu tesouro, a minha vida é a nossa. Você sabe disso…