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Para John Middleton Murry [1917 – Londres]

Levantei agora para reler seu artigo sobre Léon Bloy. A lembrança dele surgiu subitamente na minha cabeça como um perfume. Não gosto do artigo. Não vejo que sentido possa ter, mesmo artisticamente. É um estilo de Signature, e sua atração está num modo obscuro e – para mim – veja bem, para mim: suponho que só para mim – indecente. Sinto como se você fosse despir-se, e tremo. Às vezes, quando escreve, você parece rebaixar-se como Dostoievski fazia. É perfeitamente natural para você, sei, mas oh, meu Deus, não o faça. É igual a quando você diz, falando para Fergusson e para mim: “Se eu não for morto – se eles não me matarem.” Sempre ri de você nessas ocasiões, porque tenho vergonha de que fale assim.

O que é? Seu desejo de se torturar, de sentir pena de você mesmo ou algo mais sutil? Sei apenas que tem uma importância tremenda, porque é o seu modo de danação.

Sinto (perdoe a extravagância!) que, quando certos ventos sopram pela sua alma, trazem o cheiro daquele poço escuro e o som desassossegado daquelas cavernas vazias, e você desejando inclinar-se sobre o oscilante perigo negro, sem cair lá dentro – mas deixando que todos nós vejamos, enquanto isso, até que ponto você chega.

Até seu estilo de escrever muda então – pequenas frases curtas – uma das mãos erguida sobre as ondas – o meneio de uma cabeça crespa acima da confusão em redemoinho. É algo terrível estar sozinho. Sim, é… é. Mas não abaixe a sua máscara antes de ter outra preparada embaixo – terrível, se quiser – mas uma máscara.

Perdoe-me por não lhe ter dito francamente o que sentia, quando você leu o artigo para mim. Estava errada.


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