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Para Ida Baker [1922 – Paris]

[7 de março de 1922]

 

Recebi cartas de Elizabeth e Chaddie Waterlow sobre o livro [The Garden Party, publicado em fevereiro de 1922], que são uma alegria muito grande. Cartas de estranhos também, de “meu estudante” [William Gerhardi] (páginas dele) e do homem de “Clement Shorter the Sphere”, que pediu um retrato para publicar e encomendou doze histórias para julho. É o suficiente para me fazer cambalear. Anexo a resenha do Times. Por favor, devolva-a. Jack, que leu o cartão que lhe escrevi, disse sem hesitar que encomendaria um exemplar para você, a ser enviado diretamente de Londres. Também disse sem hesitar: “É claro que ela não vai acreditar que fui eu quem enviou”. Bem, foi.

Obrigada pelo pano de cetim cinza com todos os seus pequenos caseados. Fizeram-me sorrir. Meu estojo de escrever parece excessivamente suntuoso sobre ele. Lembra-me a Ida que amo. Não por causa do quanto custou. Não. Mas por causa do “impulso” – do gesto – do que você chama a “coisa perfeita”. Leva-me de volta a Isolla Bella. Oh, memória! Retorno a Casetta e ainda antes à oliveira e ao algodoeiro ao longo da cerca enredada, às rosas vermelhas e às grandes margaridas de olhos estrelados. Menton parece conter anos de vida. Como é difícil escapar dos lugares! Por mais cuidadosa que possamos ser, eles nos prendem – deixamos pequenos pedaços de nós mesmas ondulando sobre as cercas – pequenos farrapos e fiapos de nossa própria vida. Mas estranho é que – isto é pessoal – por mais penoso que algo possa ter sido, quando recordo não o é mais – ou não mais penoso que a música. Na verdade, é exatamente assim. Agora, quando ouço o mar em Casetta, é insuportavelmente belo.

Tenho de começar a trabalhar. Nunca serei uma Mulher Rica. Escrevo assim, porque escrevo neste ritmo. Não sei escrever de outro jeito. Aqui vai algum dinheiro. Viva bem! Seja feliz! Coma! Durma!


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