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Carta à sua irmã mais moça Jeanne [14 de outubro de 1921 – Suíça]

 

Carta fac-símile de um folheto da Alexander Turnbull Library, Wellington, impresso por ocasião do centenário de nascimento da escritora.

 

Para Jeanne Renshaw

14 de outubro de 1921

Chalet des Sapins

Montana-sur Sierre (Valais) Suíça

 Minha irmãzinha,

O seu lenço é muito alegre – parece ter caído da árvore-lenço [hankerchief tree ou handkey tree]. Obrigada, querida. Recordo o aniversário quando você me mordeu! Foi o mesmo em que ganhei um carrinho de boneca & numa fúria deixei que se arremessasse a toda velocidade pelo declive gramado fora da estufa. O pai ficou terrivelmente zangado & disse que ninguém devia falar comigo. Além disso, a azaleia branca estava em flor. E Tia Belle trouxera de Sydney uma nova receita de glacê. Foi experimentada no meu bolo & sem grande sucesso porque era quebradiço demais. Posso ver & sentir a sua maciez ainda agora. Você me faz desejar conversar com você, em algum lugar como o recanto do gramado de lírios. Ah, Jeanne, quem me diz “você se lembra” simplesmente tem o meu coração… Eu me lembro de tudo, e talvez a grande alegria da Vida para mim esteja em participar desse jogo – voltar com alguém para o passado – voltar à sala de jantar da casa n.75 e ao aparelho de água gasosa de ar orgulhoso e um tanto zangado sobre o aparador, com o pequeno balde sob o bico. Você se lembra daquele assobio que ele dava, & às vezes uma espécie de gemido? E dentro do aparador o cheiro de molho inglês e das rolhas de velhas garrafas de clarete?

Mas não devo começar com essas coisas. Se nos reunirmos um dia nos Estreitos de Kenepuru [um dos Estreitos de Marlborough], venha passar um dia inteiro comigo – não quer? – e vamos apenas recordar. Como Chummie [apelido de seu irmão Leslie Beauchamp, morto na guerra seis anos antes] também adorava lembrar. Você não pode escutar o seu riso suave de menino e o modo como dizia “Oh – absolutamente!” ?

Estou lhe enviando um número de The Mercury caso você não tenha visto esta história  [“The Daughters of the Late Colonel” publicada em The London Mercury]. Diga-me se gostou dela. Pelo menos uma vez – sim? Estou também enfiando dentro do envelope a minha nova fotografia para a imprensa, caso você queira ter uma. Você não tem uma fotografia para mim? Tenho uma muito encantadora de Marie [outro nome de sua irmã Charlotte]. Está excelente. Mas a última foi de você & Tio Sid [Sydney Dyer, o irmão mais moço de sua mãe] !

Sempre sua irmã K.

Transcrição do manuscrito e notas explicativas de Margaret Scott.

Tradução de Rosaura Eichenberg 


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