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17.07.2021 – Moby Dick

Dois comentários sobre o romance de Herman Melville me reavivaram a memória da leitura desse grande livro. Melville não é um escritor fácil – como quem não quer nada, ele conduz o leitor a meditar sobre temas que em geral estão muito além de nossa compreensão. Os textos de Melville sempre me causaram a impressão de eu pouco ter compreendido e um fascínio impregnado de medo pelo desejo de conhecer.  

Bartebly, the Scrivener foi a última história de Melville que li, e num momento em que me encontrava debilitada por uma fratura no ombro depois de uma queda na rua. Li desprevenida e gelei quando me vi mergulhada num conto de terror.

A leitura de Moby Dick é bem mais antiga. E o vislumbre da imensidão da minha ignorância tinha a cor branca da baleia que devora todas as cores. Entretanto, gravadas na memória como brasas incandescentes, estão as primeiras páginas da história. Ishmael – o narrador, “Call me Ishmael” – vagueia pela vila portuária com uma inquietação no coração, uma melancolia que não vai embora. Há um crescendo nos parágrafos até que ele chega à límpida conclusão – era tempo de se fazer ao mar.

Quando li esse começo de história, experimentei a sensação de já ter lido aquelas frases muitas vezes, há muito tempo. O mar sempre me fascinou, mas desde criança ele me amedronta. Adolescente, eu só queria ler livros tendo o mar como personagem, mas na praia eu não incorporava a audácia dos piratas. Por isso, é um mistério que a minha memória de Moby Dick seja este anseio de Ishmael. Se alguém me fala de Moby Dick, eu quase sempre me pego pensando se não está na hora de me fazer ao mar.

 

 

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